Alguém tem alguma dúvida de que é difícil ser bispo? Acho que não. Desde os apóstolos – praticamente todos martirizados – essa tarefa, melhor, esse ministério tem sido alvo do ataque de muitos. Nos dias de hoje os nossos bispos, em geral, já não recebem a coroa do martírio. Pelo menos não o martírio físico. Mas o fato é que realmente, nada do que se passa hoje se compara ao que muitos homens e mulheres passaram, ao longo da história, na defesa do nome de Cristo.
A impressão que eu tenho é que o bispo que foge da linha politicamente correta, o bispo que não encarna o estereótipo “acolhedor”, bonzinho, vai direto para as capas de jornal porque merece ser denunciado como uma anomalia social. Foi assim com Dom Cardoso Sobrinho (o bispo que anunciou a excomunhão dos médicos e dos pais que autorizaram o aborto da menina de Recife) e está sendo assim com Dom Odilo Scherer (acusado de antidemocrático porque cometeu o crime de seguir o estatuto da PUC e escolher o candidato que melhor lhe convém).
Ao mesmo tempo que esses bispos são denegridos pela grande mídia e pelos progressistas, eles são amados por milhares de católicos fiéis que não aceitam a negociação dos bens sagrados. O testemunho dos mártires que enfrentaram a arena, a decapitação, a crucifixão, o escalpelamento, etc., aponta ao perfil do seguidor de Jesus Cristo – aquele que assume a sua cruz até a morte. Eu vou ser muito sincero com vocês, há poucos bispos a quem eu realmente admire atualmente. Claro que existem milhares que eu desconheço e que fazem um trabalho maravilhoso no silêncio e no ostracismo, mas dos que conheço, dos que aparecem, eu quase nunca sinto aquela radicalidade evangélica de outrora. Temo pensar no que seria se nos deparássemos num cenário de perseguição.
São duas as atitudes características do episcopado de hoje. A primeira é: não julgueis! Ainda que isso esteja na Bíblia, ainda que a Igreja diga que é errado, o melhor a se fazer é tergiversar (como diz a nossa Presidenta). Falemos de fraternidade, de justiça social, de paz, do meio ambiente, mas nunca, nunca de doutrina. Quem fala de doutrina é Roma e já aviso logo, se quiser aprender vai ter que ler aquelas palavras difíceis que só eles entendem! Ora, mas o bispo, em seu munus de ensinar não poderia traduzir o que Roma diz? Melhor, não se trata do que Roma diz, trata-se do que Cristo diz…mas não. Isso pode causar constrangimento entre os fiéis, eles podem se sentir afastados, julgados. Não é isso que se vê por aí?
A segunda atitude característica do episcopado de hoje é o acolhimento incondicional. Por falta de vocações aceita-se candidatos totalmente inaptos ao sacerdócio. Aceita-se inimigos da Igreja em posições estratégicas, aceita-se professores abortistas nas universidades católicas e por aí vai. Excomunhão, por exemplo, é um termo maldito que fez parte de um passado negro da Igreja Católica (ainda que conste no atual Código de Direito Canônico). Nas Igrejas Particulares de hoje todos são convidados a fazer parte do banquete, sem que para isso você precise ouvir um “vá e não peques mais”. A Igreja do Acolhimento quer todos, sem perceber que nem todos poderiam estar ali. Qual é o pastor louco que vai trazer um lobo para ser acolhido entre as ovelhas?
Claro que é muito fácil criticar (denegrir, como pensam alguns) da comodidade de sua casa, como os chamados antropólogos de gabinete. Mas temos de ser muito realistas quanto ao fato de que buscamos a unidade sim, mas não por meio de um assentimento hipócrita dos erros dos nossos pastores. Isso só intensifica o cisma silencioso que vez ou outra ameaça a nossa Igreja. Não é Lutero a nossa inspiração ao exortar os bispos a serem mais fiéis, mais radicais em seu ministério. Não queremos montar uma Igreja “aos meus moldes”, nem retornar a uma Igreja medieval que nunca mais vai existir. Nossa intenção é sobretudo relembrar que não estamos sozinhos. O testemunho dos santos e santas está aí como luz para nos guiar no caminho.
Muitos de vocês conhecem essa historinha que se conta sobre a vida de São Pedro Apóstolo. Diante da hostilidade crescente ao cristianismo, São Pedro resolve fugir de Roma para evitar que fosse pego e martirizado como os outros cristãos. De repente Nosso Senhor passa como quem não quer nada em direção à Roma, a direção contrária a de Pedro que saía da cidade. Então o apóstolo pergunta: “Quo Vadis?” (Para aonde vais?), ao que Jesus responde: “Roman vado iterum crucifigi” (Eu estou indo a Roma para ser crucificado de novo). Desse momento em diante Pedro ganha novo ânimo e retorna para receber a coroa do martírio sob Nero.
Antes de fazer crítica de gabinete, antes de ser um criticismo vazio, queremos sobretudo perguntar aos bispos, “Quo vadis?” quando querem retirar os crucifixos das repartições públicas; “Quo vadis?” quando bebês estão sendo mortos em prol do progresso científico; “Quo vadis?” quando a sagrada liturgia se torna um carnaval em rede nacional; “Quo vadis?” quando as almas perecem sem um referencial de doutrina e de moral além dos que nos foram transmitidos há mais de 10, 15, 20 anos na catequese…Bispos, sucessores dos apóstolos e pastores da Igreja, nós vos amamos, mas como filhos, queremos dizer que nós precisamos do “não” dos nossos pais de vez em quando, ainda que isso vos leve a aturar a rebeldia de muitos adolescentes imaturos.