Poucos tiveram notícia, mas neste ano, além com os dados do Censo 2010, foi divulgada em março passado a importantíssima pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, que desde 2001 propõe-se a avaliar o perfil do leitor brasileiro. A pesquisa, que é feita por meio de questionários, trouxe dados não muito animadores para um país que quer matar a fome com assistencialismo. Há muito se sabe a fórmula para o crescimento de uma nação e essa fórmula passa pelos investimentos em educação. Apesar de esse ser um clichê característico de quem analisa questões relacionadas à leitura, nunca é demais lembrar que o governo faz pouco em traduzir esse ideal como proposta de governo.
Dentre os inúmeros dados relevantes que a pesquisa nos traz, eu gostaria de destacar alguns deles. Ao serem perguntados sobre o que gostam de fazer em seu tempo livre, a pesquisa revelou que a leitura é apenas a sétima opção de lazer (28%), depois de respostas como assistir televisão (85%) e descansar (51%). A leitura como opção de lazer caiu em relação à última pesquisa, quando 36% revelavam gostar de ler em seu tempo livre. Outro dado interessante em relação a essa variável é que 18% revelou gostar de acessar redes sociais no tempo livre, resposta que não aparecia em 2007!
O mais legal dessas pesquisas é que sempre redescobrimos o quanto o brasileiro é brincalhão (para não dizer outra coisa)…ao ser questionado se “Conhece alguém que ‘venceu na vida’ por ler bastante”, 47% respondeu que não conhecia ninguém. Ou seja, para essas pessoas, a maioria das pessoas que “venceram na vida” que eles conhecem (subcelebridades, ex-bbbs, jogadores de futebol, políticos), venceram de forma fácil – sem precisar ler. Assim esse se torna o ideal de vida do brasileiro, o sonho maligno implantado no imaginário popular.
Outra variável interessante, que inclusive motivou a minha proposta de Leiômetro aqui no blog, é a que diz respeito à média de livros lida pelos brasileiros. A pesquisa desse ano revelou que nos últimos 3 meses anteriores à pesquisa, em média o brasileiro tinha lido 1,8 livros (em 2007 eram 2,4). Dessa média, 0,8 foram indicados pela escola. Isso mostra que quando o brasileiro lê, o faz quase a metade das vezes por imposição da instituição de ensino. Infelizmente poucos descobriram o prazer na leitura, prazer que na minha opinião se adquire com o hábito da leitura, despertado na infância.
Ao analisarmos os dados, não há como deixar de fora a questão da leitura da bíblia. Esse livro é tão importante para os leitores brasileiros que dentre as respostas genéricas como “livros em geral” e “livros indicados pela escola”, a bíblia aparece como o único livro relevante em termos estatísticos. A pesquisa revelou que as mulheres leem mais a bíblia que os homens e que a faixa etária em que esse livro foi mais lido é entre 30 e 39 anos (0,21 é a média dos que responderam o que liam nos últimos 3 meses). Outro dado interessante é que da média de pessoas que responderam ter lido a bíblia nos últimos 3 meses (0,17), 0,02 são analfabetos (formais)! Porém, em 2011 o brasileiro também respondeu ler menos a bíblia (42% do total) em relação a 2007 (45% do total).
Quanto aos escritores mais admirados pelos brasileiros, temos Monteiro Lobato em primeiro lugar, Machado de Assis em segundo e agora preparem-se para as bizarrices: Zíbia Gasparetto em nono, Chico Xavier em 13º, padre Marcelo Rossi em 14º e Silas Malafaia em 24º. Continuando a falar de variáveis que refletem o (mau) gosto do brasileiro, a pesquisa de 2011 revelou dentre os livros mais marcantes: “A cabana” em segundo lugar, “Ágape”, em terceiro, “Crepúsculo” em sétimo e “Código Da Vinci” em 12º.
Em relação à média de livros lida por ano, a pesquisa de 2011 mostrou que o brasileiro leu menos livros que na pesquisa anterior. Em 2007 foram em média 4,7 livros por habitante por ano, já em 2011 essa média caiu para 4,0. No entanto, o brasileiro também respondeu nessa última pesquisa que lê mais em relação ao passado (49%), enquanto em 2007 respondia que lia menos. Quando perguntado sobre a razão de não ler mais, 50% respondeu que não lê por falta de tempo e 14% não lê mais simplesmente porque não gosta.
Gostaria de destacar também quem influencia a leitura do brasileiro. A maioria respondeu, é claro que professores influenciaram a leitura (45% do total), enquanto a mãe/responsável do sexo feminino influenciaram 43% dos entrevistados. Dentre outras respostas, é digno de nota que o padre, pastor ou outro líder religioso influenciou apenas 6% dos entrevistados. É bem sintomático que os sacerdotes não encaminhem os fiéis nas boas leituras. Vale lembrar que no (ainda) maior país católico do mundo, o Catecismo não esteja entre os 25 mais lidos. O incentivo à leitura é papel primordialíssimo dos bispos e sacerdotes, que para todos os fins exercem dentre outras a função de magistério.
Para não me estender muito, pois a pesquisa é riquíssima, eu escolherei ainda a variável “frequência com que ganhou livros”, “Livros comprados nos últimos três meses” e os dados relativos à biblioteca. Quanto à primeira variável, a pesquisa revelou que 60% dos entrevistados ditos leitores nunca ganharam livros. Quanto à segunda variável, “livros comprados nos últimos três meses”, 56% responderam que nunca havia comprado livros. Por fim, talvez os dados mais dramáticos são os relacionados às bibliotecas. Ao serem questionados o que a biblioteca representaria, 71% respondeu que a biblioteca seria apenas “um lugar para estudar”. Além disso, 76% dos entrevistados responderam que não frequentam a biblioteca e o mais interessante: 33% respondeu que NADA faria com que eles frequentassem mais a biblioteca. Que ódio é esse no coração, meu povo?
Diante dos dados revelados, o Ministério da Cultura resolveu lançar a campanha “Leia mais, seja mais”. Pelo que li a respeito, a campanha faz parte do o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) e terá em 2012 investimentos de R$ 373 milhões do próprio ministério. Este promete que a campanha ficará no ar durante todo o mês de agosto e estará no ar nas cinco principais emissoras de televisão aberta (Globo, SBT, Record, Bandeirantes e Rede TV), em emissoras públicas como a TV Senado, a TV Câmara e a TV Justiça e, ainda, em redes nacionais de rádio e em portais de internet. Como não assisto muita TV, não faço ideia se a dita campanha está ou não sendo transmitida, mas para quem prefere, como eu, “desligar a TV e ler um livro”, eis o vídeo: